Vinhos: sem exageros nem frescuras (Por Fátima Santoro)

         Vemos muitas pessoas cheirando o vinho, outras olhando para o vinho contra a luz, ouvimos alguns nomes que nem em dicionários encontramos, enfim, o vinho tem seus rituais e isso não é frescura, mas sim uma forma de aproveitar ao máximo todas as características que podemos perceber dos vinhos, e a isto damos o nome de degustação. É algo bem diferente das pessoas esnobes que querem mostrar que sabem (ou pensam que sabe) tudo quando o assunto é vinho, estes ganham o querido apelido de enochato.
         E então como apreciar um vinho sem ser chato? Oras, é só não exagerar na dose, quer ver só? Quando abrimos um vinho, podemos ou não cheirar a rolha, mas isso não é um ritual costumeiro, eu mesma tenho este hábito mas de curiosa que sou, pois ao cheirar a rolha (em raras ocasiões) podemos encontrar um cheiro de pano molhado mofado, que nos indicará que o vinho está “bouchonné” (leia-se buchonê).  Este termo deriva da palavra francesa  “bouchon” que significa rolha, e nada mais é do que uma doença da rolha (que sofre um ataque de fungos) que afetou e estragou o vinho. Agora, como eu disse, não é um hábito ficar cheirando a rolha, muito menos ficar tentando achar um vinho bouchonné cuja tampa é de rosca!
         E cheirar o vinho quando ele está na taça? Bom, os vinhos nos apresentam alguns aromas que podemos detectar logo que aproximamos a taça do nariz (quando tem uma intensidade aromática muito boa) ou então se ele está “fechado” nem colocando o nariz dentro da taça vamos sentir seus aromas. Neste caso usa-se agitar a taça de forma que o vinho fique circulando que é para volatizar as moléculas aromáticas, para que ele se abra e nos mostre as suas qualidades olfativas. Tem vinhos em que o perfume é tão bom, que é muito agradável ficar cheirando, acabamos por ficar apreciando seu aroma por mais tempo, pois algo ali nos encantou e estamos curtindo aquela sensação gostosa. Todos nós temos uma memória olfativa, de coisas que vivemos desde crianças, coisas que nos tenham marcado e descobrimos ao cheirar as mais variadas coisas que encontramos. A família aromática dos vinhos é bem extensa e pode ser mineral, vegetal, frutada, floral, animal, química, etc. Agora, o exagero é você ficar rodando a taça sem parar, cheirar um vinho e dizer que ele tem cheiro de pena de arara azul molhada depois da chuva…. vou chamar de esnobe e de enochato meeeesmo!
         Ficar olhando para o vinho na taça, também é um ritual de degustador. Fazemos isso para apreciar a sua cor, para verificar a sua “idade’ e apreciar a sua beleza, a sua estética. O vinho pode estar mais violáceo, mais rubi, mas falar que ele tem uma cor vermelha acobreada cósmica de rosas é prá lá de esquisito e nem a mais fera das artistas plásticas seria capaz de entender de que cor você está falando! Então, aqui podemos ser mais simples também, ok!
         Às vezes nos apetece ir a um restaurante e levar um vinho nosso ao invés de consumir o vinho vendido na casa. Podemos fazer isto sem problemas, mas primeiro temos que observar alguns detalhes para que tudo corra bem: o primeiro é procurar saber se naquele restaurante é comercializado o vinho que você vai levar, pois é de muito mal gosto (na verdade é muita cara de pau) levar um vinho que eles comercializam só porque você ganhou ou pagou mais barato; o correto é levar um vinho que não exista na carta de vinhos do restaurante. A grande maioria dos restaurantes cobra uma taxa quando isto ocorre, é a chamada “rolha”. A casa reserva-se o direito de cobrar um valor por cada garrafa de vinho que você levar e for aberta, afinal você está consumindo o vinho lá dentro, usando as taças deles, e o serviço dos garçons. Então, antes de levar o seu vinho para o restaurante, procure saber se a casa “cobra rolha” e qual o valor cobrado, pois se você levar um vinho muito barato e a rolha for cara não vai compensar porque o seu vinho vai acabar ficando muito caro e pelo mesmo valor (vinho + rolha) você poderia estar bebendo um vinho muito melhor. Existem vários restaurantes que chamamos de “restaurante amigo do vinho”, são os restaurantes que não cobram rolha e aqui no Morumbi temos alguns restaurantes que são assim. Neste caso, tem mais um detalhe que acho que vale a pena fazer e vai deixar você com uma imagem de cliente legal: peça uma taça a mais e sirva uma dose do vinho que você levou para que o sommelier ou maître (enfim, a pessoa com quem você acertou de não cobrar rolha) prove, é uma forma de demonstrar sua satisfação e agradecimento pela cortesia. Neste exemplo, frescura (ou enochatice aguda) seria você levar um vinho, ficar desfilando com ele pelo salão e falando alto que seu vinho é muito melhor, que naquele lugar não tem vinhos bons na carta, e ainda por cima ficar reclamando de ter que pagar rolha. Nem pensar, né! Aproveite para desfrutar tudo que o vinho pode te proporcionar, já é uma experiência e tanto.

Saúde!


Fátima Santoro
(Consultora de vinhos da Portal dos Vinhos)


Matéria publicada no jornal Bairro News Morumbi

tin-tin


Edição: Evandro Silva / Francisco Stredel

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.